Poder da Música
-Doenças da Alma
Que uma música pode melhorar o nosso humor, nos deixar alegres, mesmo quando sofremos uma perda, ou mesmo nos tornar mais melosos e carentes, ninguém parece duvidar. Mas, por que certas músicas tocam dessa forma a algumas pessoas e a outras não? Por que o som de um instrumento musical soa bem, ou mal, ao ouvido de alguém? São perguntas que muitos devem se fazer cantarolando no banho ou mesmo quando dirigem para o trabalho. Algo que talvez poucos saibam é que a música pode ser eficaz no tratamento das chamadas doenças da alma.
Pássaros cantando, o som do cair da chuva no telhado ou do vento na janela, podem atuar em lembranças e sensações, sendo excelente aliados no processo de alívio de angústias, vícios, raivas, e tantos outros sentimentos que desequilibram o psíquico de milhares de pessoas por todo o mundo. E apesar desse tratamento, conhecido como musicoterapia, ser uma técnica da época do filósofo grego Sócrates, somente agora tem ganho evidência.
Para a psicoterapeuta e psicóloga Maria Regina Basílio, a técnica utiliza-se da música ou de seus elementos que a constituem, como ritmo, melodia e harmonia. “A musicoterapia é uma ciência paramédica, que estuda a relação do homem com o som, não apenas com a música cantada ou tocada”, explica. “É recomendável a pessoas que possuem dificuldades motoras ou de aprendizado, autistas, pacientes com alguma deficiência mental, paralisia, distúrbios emocionais e psiquiátricos, gestantes e até idosos”, diz.
Maria Regina afirma que “ao observarmos como a pessoa constrói os sons no processo psicoterápico, o que ela escolhe, o comportamento que o som provoca, a emoção, as alterações que provoca, tudo é considerado como sinais”.
Determinados sons levam as pessoas a um comportamento específico ou levam a uma elaboração interna diferenciada. Por isso, passam a vislumbrar soluções e possibilidades, dependendo do som que ouvem. “Isso acontece porque o som nos dá sustentação, ele nos apoia, ele faz emergir potencialidades em nós”. Para Maria Regina, ele desperta o entendimento, a visão e a percepção de possibilidades que em outros momentos, não seriam identificadas.
Além disso, os sons nos acompanham nos momentos de tristeza e de alegria, lembra a especialista. “Foi o que observamos no velório do Michael Jackson. Aquele era um momento de luto mundial e a música estava presente ali. E porque ela trata? Naquele momento o que a música traz é um consolo, um conforto, ela auxilia com a visão de que a vida continua”.
Gaveta pessoal. “Toda pessoa tem um histórico sonoro-musical, tanto é que cada um de nós tem um ritmo de vida”, explica a psicóloga, sobre a reação que podemos ter a um som, individualmente. Para Maria Regina, esse histórico é adquirido ainda no ventre da mãe. “Porque o batimento cardíaco de nossa mãe é um som, uma pulsação”.
Mas, ela lembra que ao mesmo tempo que existe o som, há também o silêncio, que tem tanto significado quanto uma melodia. “Entretanto, existem tipos. O silêncio de indignação, de alegria, em que apenas sentimos que não há nada a dizer, pois não cabem palavras”.
Segundo a psicoterapeuta, é ao descobrir essa gaveta de sensações, que se pode utilizar o som como ferramenta para estabelecer um vínculo terapêutico. “A formação desse histórico sonoro começa na formação e vem se construindo até a nossa escolha musical atual, a escolha dos estilos musicais que preferimos. O que compõe seu estilo, seu ritmo e sua maneira de ser. E a partir da utilização dessas informações é que estimulamos em nós mesmos, a cura e a sensibilidade necessária”, conclui.
" Rander Ariel "